O controle biológico de pragas está cada dia mais presente na agricultura. Estima-se que esse tipo de controle seja usado há mais de 200 anos, e que o emprego mais moderno iniciou no final do século XIX (Van Lenteren e Godfray, 2005). Esse método tem como objetivo utilizar a natureza a favor do sistema produtivo, fazendo com que a praga fique em uma população abaixo do nível de dano.
O manejo de pragas com o auxílio de inimigos naturais não consiste na eliminação total de uma praga em uma determinada cultura, mas sim, na manutenção de um equilíbrio natural. O controle biológico diminuirá consideravelmente o uso de produtos químicos nos próximos anos. Os produtos disponíveis no mercado são compostos de diversos organismos entomopatogênicos, como fungos, bactérias, nematoides e vírus; e também agentes predadores e parasitoides registrados para o controle de diferentes pragas agrícolas (Figura 1).
Figura 1 – Lagarta atacada por um parasitoide (esquerda) e Lagarta atacada por um fungo entomopatogênico (direita).
A utilização do controle biológico apresenta uma série de vantagens em relação ao controle químico. Nesse tipo de controle não há intervalo de segurança, ou seja, o produto pode ser colhido logo após a aplicação de um determinado organismos, não há desenvolvimento de resistência, e não causa danos fitotóxicos na cultura.
Agora entenda os 4 tipos de controle biológico de pragas (Cock et al., 2010):
Clássico: Se baseia no controle de uma praga invasora através da introdução, criação, liberação e estabelecimento de inimigos naturais à longo prazo.
Aumentativo: Tem como base a liberação inundativa de inimigos naturais na área de cultivo, é o mais aceito e utilizado. No controle biológico aumentativo se espera resultado em um curto período de tempo. O controle biológico aumentativo é aplicado em mais de 30 milhões de hectares em todo o mundo (Van Lenteren et al., 2018). Existem alguns exemplos de sucesso que levaram o levaram ao êxito:
– Substituição completa de inseticidas por predadores no controle de tripes e mosca-branca em na cultura do pimentão na Espanha (Calvo et al., 2012)
– Controle de Helicoverpa armigera pela bactéria Bacillus thuringiensis e Baculovírus, liberados de forma emergencial, pois os inseticidas disponíveis não foram suficientes no manejo dessa praga (Pratissoli et al. 2015).
Natural: Consiste na atuação de inimigos naturais que já estejam no ambiente, sem a interferência do homem. O controle biológico natural ocorre em todos os ecossistemas que não sofrem a interferência do homem, e é considerada a maior contribuição, em termos econômicos, para a agricultura.
Conservativo: Nesse conceito o homem preserva e estimula o desenvolvimento de inimigos naturais presentes na área, por meio da utilização de produtos seletivos e pelo manejo cultural (rotação de culturas, plantio consorciado). Essa relação de equilíbrio muitas vezes é quebrada com uso desordenado de inseticidas.
Agora entenda os fatores que devem ser conhecidos e levados em consideração para o sucesso na utilização de um inimigo natural:
- Conhecimento da biologia do alvo – Isso possibilita escolher a melhor época de aplicação. Esse período corresponde ao intervalo de tempo em que a praga será mais sensível ao inimigo natural;
- Conhecimento da biologia do antagonista – Isso oferece as melhores condições para o desenvolvimento do inimigo natural para se obter os melhores resultados.
- Associações com outros produtos químicos – Isso possibilita conhecer o que pode ou não ser misturado na calda de pulverização.
No Brasil existem diversos organismos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle de pragas. Quanto mais o profissional e o produtor buscar esclarecimentos e capacitações, maior será sua eficiência de utilização do controle biológico para o manejo das importantes pragas agrícolas.
Referências bibliográficas
Calvo, F. J., Bolckmans, K., & Belda, J. E. (2012). Biological control-based IPM in sweet pepper greenhouses using Amblyseius swirskii (Acari: Phytoseiidae). Biocontrol Science and Technology, 22(12), 1398-1416.
Cock, M.J.W., et al. Do new access and benefit sharing procedures under the convention on biological diversity threaten the future of biological control? BioControl, 55:199–218, 2010.
Pratissoli D, Lima VLS, Pirovani VD, Lima WL (2015) Occurrence of Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) on tomato in the Espírito Santo state. Hortic Bras 33:101–105
VAN LENTEREN, Joop C., et al. Biological control using invertebrates and microorganisms: plenty of new opportunities. BioControl, 63.1: 39-59, 2018.
Van Lenteren, J. C., & Godfray, H. C. J. European science in the Enlightenment and the discovery of the insect parasitoid life cycle in The Netherlands and Great Britain. Biological Control, 32(1), 12-24, 2005.