A demanda da sociedade por alimentos livres de produtos químicos, fez com que o uso de biopesticidas passassem por uma grande ascensão no mundo. Junto com isso, também aumentou a prospecção de organismos mais eficientes não só no controle de pragas, doenças e plantas daninhas, mas também na indução de resistência e na promoção do crescimento de plantas.

O surgimento de organismos resistentes, também favoreceu a adesão ao controle biológico. Diante disso, a produção de biopesticidas se tornou cada vez mais importante, e fundamental no manejo de pragas em muitas culturas agrícolas (Maina et al., 2018). Dentro desse contexto, os fungos entomopatogênicos desempenham um papel importante no controle natural de insetos. Dentre os diversos agentes utilizados no controle de pragas, o fungo Beauveria bassiana recebe destaque, por ser caracterizado como o mais estudado e comercializado do mundo no controle biológico de insetos. Esse fungo também é caracterizado por infectar uma ampla gama de hospedeiros, atacando mais de 700 espécies de artrópodes (Imoulan et al., 2017).

Apesar de muitos insetos serem hospedeiros desse fungo, no Brasil existem formulações comerciais para Bemisia tabaci raça B (Mosca-Branca); Cosmopolites sordidus (Broca-da-bananeira); Coccus viridis (Cochonilha-verde); DaIbuIus maidis (Cigarrinha-do-milho); Diabrotica speciosa (Vaquinha); Euschistus heros (Percevejo-marrom); Diaphorina citri (Psilídeo-asiático-dos-citros); Gonipterus scutellatus (Gorgulho-do-eucalipto); Hedypathes betulinus (Broca-da-erva-mate); Hypothenemus hampei (Broca-do-café) e Tetranychus urticae (Ácaro-rajado). Na prática, esse fungo é utilizado na agricultura através de aplicações de inundativas, com muitos conídios. Para que que a utilização do fungo tenha os resultados esperados, é importante que o alvo e o fungo utilizado sejam bem conhecidos. Dessa forma, o controle é mais acertivo. Mas como esse fungo age nos insetos?

Os esporos assexuais (conídios) se aderem a cutícula, que após a reidratação e alguns estímulos formam uma estrutura especializada, chamada apressório. O fungo entra no inseto rompendo todas as camadas da cutícula, isso só é possível por meio da produção de enzimas hidrolíticas. Após passar por essa barreira o fungo atinge a hemolinfa, e passa a se nutrir e formar substância tóxicas ao inseto. Nesse local o fungo passa para um crescimento filamentoso, as conhecidas hifas ou blastosporos. Após causar a morte do hospedeiro o fungo esporula na superfície, para continuar o ciclo de vida (Valero Jiménez et al. 2014). Os insetos atingidos pela Beauveria, ficam com a aparência seca e com a presença de esporos brancos na superfície (Figura 1). Esses esporos podem ser fonte de inóculo e contaminar outros insetos suscetíveis ao fungo na área de cultivo.

Figura 1 – Euschistus heros (percevejo-marrom) atacado pelo fungo Beauveria bassiana.

A eficácia do fungo pode ser afetada por diversos fatores, principalmente os abióticos, como a temperatura, umidade, precipitação e radiação solar (Jaronski., 2010). Devido a esses problemas, as formulações buscam minimizar o efeito desses fatores. Com relação aos fatores bióticos são relacionados com a idade do hospedeiro, suscetibilidade e comportamento.

A chave de todo o processo está em tornar o ambiente de cultivo infeccioso para as pragas. O controle biológico faz cada vez mais parte do manejo, e sua parcela será ainda maior. Não podemos pensar que o uso de fungos para o controle de pragas seguirá o mesmo processo já conhecido com o uso de inseticidas. Normalmente, o tempo controle é um pouco mais lento, quando comparado ao controle químico. Com isso, o objetivo do controle biológico não é eliminar 100% de um organismo na área, e sim torná-lo em um equilíbrio para que não cause danos econômicos.

 

Referências

IMOULAN, A. et al. Entomopathogenic fungus Beauveria: Host specificity, ecology and significance of morpho-molecular characterization in accurate taxonomic classification. Journal of Asia-Pacific Entomology, v. 20, n. 4, p. 1204-1212, 2017.

Jaronski, S.T. Ecological factors in the inundative use of fungal entomopathogens. Biocontrol 55:159–185, 2010.

Maina, U. M., Galadima, I. B., Gambo, F. M., & Zakaria, D. A review on the use of entomopathogenic fungi in the management of insect pests of field crops. Journal of Entomology and Zoology Studies, 6(1), 27-32, 2018.

Valero-Jimenez C.A., Debets, A.J.M., van Kan, J.A.L., Schoustra, S.E., Takken W., Zwaan, B.J., Koenraadt, C.J.M. (2014) Natural variation in virulence of the entomopathogenic fungus Beauveria bassiana against malaria mosquitoes. Malar J 13:479,  2014.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dois × três =